quinta-feira, 3 de abril de 2008

Engolindo borboletas...


A coisa especial que acontecia com aquele coelho era também especial com todos os coelhos do mundo. É que ele pensava essas algumas idéias com o nariz dele. O jeito de pensar as idéias dele era mexendo bem depressa o nariz. Tanto franzia e desfranzia o nariz que o nariz vivia cor-de-rosa. Quem olhasse podia achar que pensava sem parar. Não é verdade. Só o nariz dele é que era rápido, a cabeça não. E para conseguir cheirar uma só idéia, precisava franzir quinze mil vezes o nariz.

Pois bem. Um dia o nariz de Joãozinho - era assim que se chamava esse coelho - um dia o nariz de Joãozinho conseguiu farejar uma coisa tão maravilhosa que ele ficou bobo. De pura alegria, seu coração bateu tão depressa como se ele tivesse engolido muitas borboletas. (...)
(Clarice Lispector, O mistério do coelho pensante. Rio de Janeiro: Rocco, 1999)

2 comentários:

tagg disse...

olha essa clarice, tomando ácido!
fofa, coloquei teu link no meu blog (descobriiii!!! - a anta tecnológica). passa lá, veja as novidades... bjos mil

Lilian disse...

É, admito que essa coisa de "cheirar idéias" dá o que pensar... rs... literalmente...rs